quarta-feira, 1 de junho de 2016

Memórias... A Culpa Nunca é da Vítima


Memórias...

Eu tinha 18 anos e estava com uma prima ainda criança. Saímos da casa da minha avó do coração em direção a casa de um primo que morava a poucos quarteirões. Era cerca de 7 horas da noite.

Caminhamos poucos metros e um homem veio até a mim para pedir uma informação. Quando olhei nos seus olhos vi uma expressão tenebrosa que me causou medo, mas muito medo. Puxei minha prima pelo braço e voltamos correndo para a casa da minha avó. Fechei o portão rapidamente e aguardei uns 30, 40 minutos e, mesmo amedrontada, resolvi seguir para a casa do meu primo.

Assim que cheguei no meu destino, fui empurrada violentamente contra o muro. Sempre tive horror de violência sexual e sempre disse que isso só aconteceria comigo se estivesse morta ou dopada. Entrei em pânico e comecei a gritar e a me debater. Graças a Deus, antes que acontecesse o pior, os cachorros começaram a latir, meu primo foi verificar o porquê, ouviu meu pedido de socorro e o homem fugiu. Mesmo tendo trocado de camisa, pude perceber pelo olhar maligno que era a mesma pessoa que tinha me abordado para pedir informação.

E o desfecho da história foi que meus pais achando que estavam fazendo o certo, preferiram "abafar o caso" e não acionar a polícia. Ficaram com medo do marginal descobrir onde morávamos e voltar para fazer algo contra mim. A simplicidade deles não os fez enxergar que chamar a polícia poderia evitar que o crime se concretizasse com outras mulheres. 

Quanto a mim, convivi por um período com sentimentos nada agradáveis: nojo, medo, indignação e perplexidade!

Nojo por um crápula ter colocado suas mãos imundas em mim...

Medo de sair sozinha e acontecer algo semelhante...

Indignação por ter minha liberdade cerceada por conta de um criminoso que deveria estar preso...

Perplexidade por ter que conviver com parte das poucas pessoas que souberam do ocorrido insinuando que aconteceu porque eu gostava de usar roupas curtas, mesmo sabendo que nesse dia eu estava usando jeans e blusa de manga longa... 

Mas, enfim! O tempo passou e deixou cicatrizes, mas minha vida voltou ao normal...

E por que estou contando isso para vocês? Porque, com a repercussão do estupro coletivo da adolescente no Rio de Janeiro, 26 anos depois, tive a triste constatação que a sociedade muito pouco evoluiu.

Meu Deus... quanta crueldade nas redes sociais! Quem alega que o crime ocorreu porque a adolescente sai a noite, usa roupa curta, fuma, tem filho, usa droga e/ou já teve vários parceiros deve perdoar o ladrão que rouba seu carro, suas joias, sua bolsa... quem mandou você sair na rua com objetos de valor, não é mesmo?

Não, a culpa nunca é da vítima! Estupros ocorrem porque a sociedade ainda é machista,e porque falta cultura, educação, coragem para denunciar e leis severas que punam com rigor esses monstros disfarçados de gente!

Até quando teremos que conviver com isso???

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